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WANNABE

 

Querer ser, querer parecer. Querer para ser.
Do velho se faz novo mas o novo cheira a mofo. Versão de nós mesmos perdida em outros fumos e nevoeiros.

Num horizonte emparedado e já sem mar, importamos palmeiras esqueléticas sabe lá Deus de onde.
Pintamos agás na chipala dos prédios para os helicópteros que nunca vêm. Transformamo-nos em jibóias com anseio de pele nova - de vison, de preferência, porque na Humpata faz frio à noite.

Do alto da colina rosada, desenha-se agora a modernidade. Memória é lixo, história é dominação. Ganha a demência. "Considerando que as razões de natureza racional que determinaram a classificação da sanidade mental já não existem". Decreto Executivo No de Teatro/Ridículo, de Data/Para/Esquecer.

A culpa é dos outros. Como se chamava mesmo essa gaja? A Velha Senhora! Morta e enterrada, mas ainda hoje de boca aberta para nos tragar. Como um esqueleto-marioneta que, sem dar-se conta, mudou de cor, foi pioneira, comeu peixe frito e gritou revolução. Até entender que essa palavra é arma que agora lhe aponta à cabeça. Essa kota hoje é diva. Contratou criada para inspirar e criada para expirar. Grifa com etiquetas amarradas à pele e bebe vinho tinto a estalar, porque a estalar é que é!

O postal nunca foi tão farsa: a mais-velha, a pose e o seu kimbo de gruas-embondeiros. Com raízes enormes, dessas tipo acácia, levantam a terra e atiram para o espaço sideral a erva daninha. A cidade arma-se em fruta fina. É manga adormecida que quer ser maçã que nunca dorme.

E todos "wanna be a part of it", Nguimbi, Nguimbi!

Mas caroço não é pevide, parte uns quantos dentes. O show desta Angollywood apaga-se de repente, tipo luz que baza quando Capanda não enche.

No final, a lei é estrita: usa a tua melhor camuflagem. Cobre rosto, mãos, pernas, para que o mosquito não te pique. Abafa o grito, para que não te engula um jacaré. Se fores um espelho sem fundo, fica mais fácil. Podemos ser qualquer coisa. Menos o que de verdade somos.

Pedro Cardoso

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